quinta-feira, abril 23

Bebês não choram, sobrevivem

Ninguém ama ninguém. Vivemos num mundo fodido que sobrevive o mais forte, e o mais fraco sobrevive também, mas é o primeiro a sofrer das doenças que o mundo pestilento espalha por aí. Hoje magoaram o meu coração. Eu sou uma garota forte, mas lágrimas já caíram sem razão dos meus olhos. Ninguém deveria magoar uma garota. Nenhuma garota deveria magoar ninguém. Queria te fazer engolir minhas lágrimas num copo de chá com veneno, mas isso seria injusto, pois nem foi tua culpa. Você apenas foi morto pelas circunstâncias. Qual sua culpa de ocupar o lado fraco da corrente?

Queria ter você aqui e te meter um chute no rabo. Você que deveria chorar por mim. Maldito inferno. O sol queima a minha cabeça. O cemitério está colorido demais para ser um antro de decomposição. As pessoas me dão condolências. Nosso filho tem dois anos, não entende nada do que se passa. Outro fodido na vida. Você consegue imaginá-lo vencendo a vida? Não. Será outro perdido no mundo, vou me encarregar de fazê-lo ver que sua mãe é uma puta vagabunda e bêbada, e se ele superar essa, vai ser uma grande vitória.

Seu pai foi um grande merda. Sua mãe é uma vadia. Que vida fodida a sua, meu querido filho. A chupeta azul pende da boca macia. Quero abracá-lo e me afundar em sua maciez infantil. Não posso. Meu filho não merece a mãe que tem. 

 – Fique sentado aqui, querido. A mamãe já volta.

Nunca mais o vi.

Um comentário:

  1. Edivana, seus textos são ma-ra-vi-lho-sos. Tanto que incluí você no meu site: dezpoesias(ponto)jimdo(ponto)com. Se você não aprovar, retiro na hora. Meus parabéns pelo seu enorme talento.

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